ORIENTAR-SE NUM MUNDO INCERTO: NOSSA RELAÇÃO COM O TEMPO E OS PROJETOS DE VIDA

Orientar-se num mundo incerto: nossa relação com o tempo e os projetos de vida



“Muito ocupado. Eis a condição na qual se encontra cada um de nós. Estamos na urgência de agir, na espera intolerável de produzir os resultados esperados. Como a urgência não é mais uma excepcionalidade, mas antes nosso modelo habitual de funcionamento, não nos resta tempo para refletir” Denis Pelletier


Nossa percepção do tempo está mudando, estamos deixando de lado o tempo pensado para dar lugar a um tempo de viver e de agir. Isto afeta também as relações com nós mesmos e com o mundo, todas essas mudanças precisam ser melhor compreendidas.

Os gregos compreendiam o tempo a partir de duas entidades: Chronos e Kairós. Chronos é o tempo programado, o tempo linear e repetitivo, aquele que funda o calendário, as estações do ano, a continuidade, a rotina, o previsível e o planejado. Chronos nos permite organizar nossa agenda, ter compromissos, realizar a gestão do nosso tempo e estabelecer metas.


Kairós é o acontecimento que vem desprogramar Chronos, é o imprevisível, o inesperado, eventos que não correspondiam a nossas expectativas e vem para quebrar nossa rotina. É o tempo da ruptura, da mudança e da oportunidade.


No contexto atual de incertezas em que vivemos o tempo dos acontecimentos ditados por Kairós vem se tornando habitual. Sob o efeito das ciências, dos processos democráticos e da influência de novas tecnologias da informação, que fazem com que a realidade se torne fluída, complexa e instável, um projeto de vida torna-se uma carta de intenções, de expectativas que poderão ser reconsideradas e reposicionadas, mantendo-se a leitura flutuante da realidade.


Assim como um barco precisa ajustar suas velas para que o vento o leve para a direção desejada, estamos dispostos e atentos a compreender o mundo à medida em que se revela, suas tendências e possiblidades. O presente contém mais possibilidades e opções do que somos capazes de compreender e escolher.


A busca por informação e conhecimento torna-se um processo contínuo, no qual se conhece o mundo pela ação e pela interação. A relação com o mundo torna-se portanto, uma co-ação.


A forma como fazemos nossas escolhas torna-se muito mais a arte de explorar e aproveitar as oportunidades que se apresentam, estar aberto aos acontecimentos que nos provocam e nos interpelam para continuar seguindo em frente. Lidar com imprevistos e mudanças se tornou um modus operandi para o desenvolvimento de carreira e dos demais aspectos da vida.


A identidade permanece uma questão aberta e jamais definitivamente resolvida. Não temos outra escolha senão decidir o que queremos ser e como queremos agir. É preciso aprender a “ler” a realidade, aguçar o olhar, tomar consciência dos próprios recursos e identificar oportunidades, em um processo de construção ativa das nossas próprias biografias. 


Fonte: PELLETIER, Denis. S’ orienter dans um monde incertain. In: D. Pelletier (Org.) Pour une approache orientante d l’ecole québécoise: concepts et pratiques à l’usage des intervenants (pp. 7-23). Quebéc: Septembre, 2001. Trad. Marcelo Afonso Ribeiro. Material não publicado


Fonte da imagem: ibccoaching