Iniciaremos uma trilogia de artigos sobre o Novo Ensino Médio (Lei 13.415/2017), assunto que tem levantado muitas dúvidas por ser um tema complexo e que abrange a comunidade escolar e a sociedade como um todo.
Nesta primeira parte, abordaremos o impacto que esta mudança causará na vida do aluno ou aluna de escola pública e privada. Na segunda parte, analisaremos o papel do professor nesse novo contexto educacional. E, no último artigo, analisaremos as mudanças que ocorrerão no Enem em razão das mudanças curriculares do Novo Ensino Médio.
Realidade do Ensino Médio hoje
O ensino médio no Brasil é de baixa qualidade. O aluno que conclui esta etapa escolar na rede pública de ensino não está preparado para tarefas rotineiras da vida adulta, como: interpretar textos, calcular trocas ou juros simples, e escrever de forma clara e coerente. Segundo dados de 2019, do indicador IDEB, que mede a qualidade da educação no país, apenas um em cada dez alunos possui aprendizagem adequada em Matemática, e 37% demonstram capacidade de compreender e interpretar textos, ao concluírem o Ensino Médio. Deve-se ressaltar que esses dados refletem a situação dos alunos antes do início da Pandemia Covid19, ou seja, não analisa seus impactos na educação.
Há outros dois fatores preocupantes: apenas 12,4% dos jovens cursam a educação profissional no Brasil (dados do Inep 2020), e somente 23,8% de jovens de 18 a 24 anos no Brasil frequentam o ensino superior (IBGE, PNAD Contínua 2020). Isto quer dizer que o modelo vigente de Ensino Médio não prepara este jovem nem para o mercado de trabalho, nem para entrar na universidade. São os jovens conhecidos como “nem nem”: nem estudam e nem trabalham. E a baixa qualificação e as poucas oportunidades de inserção no mercado de trabalho geram, como consequência, uma elevada taxa de evasão entre alunos de escolas públicas.
Na escola particular, mesmo não havendo a questão da evasão física, educadores percebem a “evasão emocional”, ou seja, o aluno está de corpo presente na aula, mas não se envolve, não participa, está alheio ao que está sendo desenvolvido em sala de aula.
Entendendo o que é o Novo Ensino Médio
A carga horária média era de 4 horas por dia (800 horas anuais) e passará, progressivamente para 5 horas por dia (1.000 horas/ano) até 2022.O novo modelo também terá uma organização curricular mais flexível, composta pela Formação Geral Básica (60%), e pelos itinerários formativos (40%).
A Formação Geral Básica passa a ser uma parte comum nos currículos dos jovens nas escolas públicas e privadas, que está fundamentada na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento normativo que define as aprendizagens essenciais e obrigatórias que os alunos devem desenvolver ao longo da sua vida escolar básica.
São competências e habilidades referentes às quatro áreas do Conhecimento: Linguagem e suas Tecnologias; Matemática e suas Tecnologias; Ciências da Natureza e suas Tecnologias; e Ciências Sociais e Aplicadas. O novo formato irá permitir uma maior interdisciplinaridade, um olhar por área de conhecimento, ao invés do olhar por disciplina, em que será possível unir, por exemplo, Ciências Humanas com Ciências Sociais Aplicadas ou Matemática e Linguagens.
Já os Itinerários Formativos são caminhos personalizados que aprofundam conhecimentos da Formação Geral Básica e oferecem maior conexão dos jovens com seu cotidiano e o mercado de trabalho. É a parte flexível do currículo, que cada escola formatará do seu jeito, de acordo com suas demandas e condições financeiras. Eles podem ser uma combinação entre áreas do conhecimento (Ex: Matemática e Ciências da Natureza); formação técnica e profissional (FTP) e os quatro eixos estruturantes (Investigação Científica, Processos Criativos, Mediação e Intervenção Sociocultural e Empreendedorismo). Podem ter formatos diferentes (disciplinas, módulos, laboratórios, oficinas, cursos, etc); durações diferentes e serem ofertados na escola, instituições credenciadas (ex:estágio supervisionado), ou até à distância. Veja a Tabela abaixo:
O protagonismo do aluno
A nova organização do currículo permite uma maior conexão entre as disciplinas, com abordagens do conhecimento de forma interdisciplinar. Isto é importante porque conduz a um aprendizado e entendimento do mundo de maneira mais integrada pelo aluno. Com o Novo Ensino Médio, é esperado que o jovem amplie seu repertório, sua capacidade crítica e suas possibilidades de escolha, ao selecionar itinerários formativos diferentes, de acordo com os seus interesses.
O novo modelo também permite uma formação do aluno que considera não apenas aspectos cognitivos, se ele adquiriu conhecimento ou não, mas também analisa aspectos físicos e socioemocionais, auxiliando este jovem a construir um projeto de vida que faça mais sentido para ele, definido por ele, portanto, mais adequado à sua realidade à profissão que ele gostaria de exercer.
Sabemos o quanto jovens em situação de vulnerabilidade social abandonam a escola porque precisam trabalhar e contribuir com a renda de sua família, aceitando qualquer serviço, sem registro, subempregos ou “bicos”, que muitas vezes oferecem muitos riscos à sua saúde mental e física.
Se tiverem oportunidades de receber qualificação profissional (formação técnica) durante o ensino médio, escolhendo profissões com as quais tenham mais afinidade, isso aumentará suas chances de inserção no mercado de trabalho, sem descartar a possibilidade de seguirem carreiras no ensino superior, num segundo momento.
Além disso, este protagonismo do aluno, que passa a ser o centro do seu processo de aprendizagem, o tornará mais engajado, propiciando condições para que ele desenvolva um papel mais crítico e ativo, que possa torná-lo um cidadão que traga soluções práticas para problemas da comunidade em que ele está inserido, e também em sua vida futura.
PRojeto de vida e escolha profissional
Um dos componentes curriculares do Novo Ensino Médio é o Projeto de Vida do aluno com o objetivo de adequar as características dos alunos ao seu cotidiano. O foco não será mais só a vida acadêmica do aluno, mas a construção de uma identidade, autoconhecimento, ética, cidadania, autoconfiança e aspectos necessários para se viver em sociedade.
O Projeto de Vida busca trabalhar fatores socioemocionais, como as inseguranças, as dúvidas sobre o futuro e formas de viver em sociedade, o que se busca é que o Projeto de Vida seja o fio condutor das ações pedagógicas,que esteja conectado à realidade deste aluno e o auxilie a se inserir no mercado de trabalho.
Implementação de Cauda Longa
Como vimos, há muitos impactos positivos para o aluno com o Novo Ensino Médio. Entretanto, sabemos que há muitos desafios e dificuldades no processo de implementação deste novo modelo, que acontecerá de forma gradual, já que é um processo de “cauda longa”, com muitos atores envolvidos e fatores que podem interferir.
As instituições de ensino terão autonomia para definir quais itinerários irão oferecer, de acordo com suas possibilidades financeiras e demandas, determinando os formatos, cargas horárias e locais em que ocorrerão.
Porém essa autonomia precisará ser precedida pela capacitação de professores com formações mais multidisciplinares e menos especialistas, para que a implementação desse novo modelo traga os resultados esperados. Inclusive, o papel do professor será assunto para o nosso próximo artigo.
Está com dúvidas sobre seu projeto de vida ou deseja algum aconselhamento ou orientação profissional? Entre em contato: (11) 94329-4343 WhatsApp ou caioalemos@gmail.com