SÉRIE: O NOVO ENSINO MÉDIO - O NOVO ENEM

Neste terceiro e último artigo da trilogia “O Novo Ensino Médio”, abordaremos as mudanças que estão sendo pensadas no Novo Enem para acompanhar a transformação no Novo Ensino Médio.


No dia 14 de março de 2022, o Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou um parecer com as mudanças que devem ser feitas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) a partir de 2024. O objetivo é que o exame acompanhe as novas diretrizes do Novo Ensino Médio, que passa a valer neste ano, e deve estar 100% implementado nas escolas em até três anos.

“Se o Ensino Médio terá uma parte comum e uma parte diversificada/flexível, a orientação do Conselho é que o Enem siga a mesma direção: tenha uma primeira etapa comum a todos os candidatos, e uma segunda mais diversificada", explicou, em entrevista ao G1 Educação, Maria Helena Guimarães de Castro, relatora do parecer do CNE.

O parecer do Conselho ainda precisa ser homologado pelo Ministério da Educação (MEC) para entrar em vigor.


O que é e para que serve o Enem?

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi criado em 1998 para avaliar o desempenho escolar dos estudantes ao término da educação básica. Em 2009, o exame aperfeiçoou sua metodologia e passou a ser utilizado como um mecanismo de acesso à educação superior.

Aliás, hoje, o exame é a principal porta de entrada para o ensino superior no País. Qualquer pessoa que estiver concluindo o ensino médio, ou já tiver esta etapa concluída, pode participar. As notas do Enem podem ser usadas para acesso ao Sistema de Seleção (SISU); ao Programa Universidade para Todos (ProUni), e mais de 50 instituições de língua portuguesa conveniadas. Além disso, os participantes podem pleitear financiamento estudantil em programas do governo, como o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).

Os resultados do Enem possibilitam ainda o desenvolvimento de estudos e indicadores educacionais.


Como é o Enem hoje?

São dois dias de prova, dois domingos. No total, são 180 questões de múltipla escolha e uma Redação. A prova é única e igual para todos os candidatos, sendo apresentada em quatro cores, cada uma com uma ordem diferente de questões, para evitar fraude, mas as questões são as mesmas.

No 1º dia de prova, com duração máxima de 5h30, são aplicadas 90 questões de múltipla escolha: 45 questões de Linguagens e Códigos (Língua Portuguesa, Literatura, Língua Estrangeira, Artes, Educação Física, Tecnologias da Informação e Educação) e 45 questões de Ciências Humanas (História, Geografia, Filosofia e Sociologia) e uma Redação (parte discursiva-argumentativa).

No 2º dia de prova, com duração máxima de 5h, são 90 questões de múltipla escolha: 45 questões de Ciências da Natureza (Biologia, Física e Química) e 45 questões de Matemática.

Em resumo: a prova é igual para todos; a única questão aberta ou subjetiva é a Redação, e a prova é composta apenas pelas quatro áreas do Conhecimento: Ciências Humanas e Suas Tecnologias; Ciências da Natureza e Suas Tecnologias; Linguagens, Códigos e suas Tecnologias; e Matemática e Suas Tecnologias.


Como será o Novo Enem?

A proposta é que,a partir de 2024,o exame seja feito em duas etapas (dois dias diferentes), e que se incluam questões discursivas, além das de múltipla escolha, com o objetivo de ser uma prova menos conteudista e “decoreba”, exigindo do participante capacidade de raciocínio lógico, argumentação e interpretação de textos e dados.

O Novo Enem seguirá como modelo avaliações internacionais renomadas, que contam com questões mais abertas e subjetivas. Ainda não foram definidas quantas questões discursivas e quantas de múltipla escolha, nem duração das provas em cada etapa, e se serão aplicadas aos domingos, como acontece atualmente.

Na 1ª etapa, única, obrigatória e comum para todos, os candidatos responderão questões de formação básica geral, alinhadas aos conteúdos da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Serão aplicadas questões interdisciplinares, de caráter generalista e interpretativo, combinando temas das quatro áreas do conhecimento (Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza e Ciências Humanas).

Na 2ª etapa, o participante responderá a questões específicas, escolhendo uma área de acordo com os itinerários formativos que ele cursou no ensino médio e instituição de ensino superior ou curso em que ele deseja ingressar. O candidato deve escolher uma entre estas quatro áreas para fazer a prova:


1.Linguagens, Ciências Humanas e Sociais Aplicadas;

2. Matemática, Ciências da Natureza e suas Tecnologias;

3. Matemática, Ciências Humanas e Sociais Aplicadas e

4. Ciências da Natureza, Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.


Então, por exemplo, se o candidato quer fazer faculdade de Medicina, ele pode escolher fazer a prova da área de Matemática e Ciências da Natureza; ou se deseja fazer Direito, pode optar pela área de Linguagens e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.


Como será a correção da prova?

Hoje as provas do Enem são montadas com questões que já integram um banco de dados (BNI). Essas questões são avaliadas de acordo com a Teoria da Resposta ao Item (TRI) que classifica o nível de dificuldade da questão em: fácil, médio ou difícil, dependendo de um conjunto de respostas do participante, e permite identificar se as respostas dadas pelo candidato são por conhecimento ou chute. Este sistema se aplica muito bem para questões objetivas.

Com a inclusão de itens discursivos no Novo Enem, especialistas têm discutido se será necessária a implementação de outro sistema de correção, como um sistema de inteligência artificial para garantir a correção e divulgação dos resultados das provas dentro de um prazo razoável, ou se o novo exame manterá a correção com base no modelo matemático TRI. Mas ainda não há um consenso sobre isso.


Implementação do Novo Enem deve ser gradual

Até a implementação definitiva do Novo Ensino Médio, algumas dúvidas precisarão ser respondidas: Será que as escolas conseguiram se adaptar ao Novo Ensino Médio? A reforma do Ensino Médio e o Novo Enem não ampliarão ainda mais as desigualdades educacionais entre as redes públicas e privadas? Cada Instituição de ensino superior criará o seu critério para selecionar seus candidatos a partir dos resultados do Enem? Como fica a correção das questões discursivas? Quanto tempo e como elaborar a prova neste novo formato do Enem? Como fica o Enem digital?

Para o Conselho Nacional de Educação, a decisão do uso das notas pelas universidades/faculdades deve partir do Ministério da Educação e das instituições de ensino superior. As instituições deverão comunicar o quanto antes como funcionará o seu processo seletivo, podendo escolher, por exemplo, apenas a nota da primeira etapa do candidato, ou ainda atribuir pesos diferentes para cada prova.

A sociedade deve acompanhar as decisões e diretrizes do MEC, depois dessa aprovação do parecer do CNE. O que já se pode afirmar é que os cursinhos pré-vestibulares e as redes de ensino terão que reformular suas aulas e metodologias porque os processos seletivos para ingresso em instituições de ensino superior vão mudar muito nos próximos anos.

O Novo Ensino Médio e o Novo Enem propõem implementar mudanças muito importantes no sistema de ensino do país. Trata-se de uma proposta de modelo inovador de ensino-aprendizagem.


Esse será o grande desafio para os próximos anos, as sementes da mudança estão lançadas, no entanto, o Novo Ensino Médio somente será viabilizado, se ações como as que foram aqui expostas ofereçam suporte para essas mudanças.


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