SÉRIE: O NOVO ENSINO MÉDIO - O PAPEL DO PROFESSOR

I

Retomando nossa série sobre o Novo Ensino Médio (Lei 13.415/2017) – veja a primeira parte neste link – vamos abordar, neste segundo artigo, qual será a função do professor neste novo modelo de aprendizagem.


Mudanças na sala de aula

Vivemos a Sociedade do Conhecimento, na era da automação e dos robôs, da inteligência artificial, da internet das coisas, da realidade aumentada e da realidade virtual.


No primeiro artigo, abordamos as características das novas gerações de alunos, fortemente impactadas pelos avanços tecnológicos e o descompasso do sistema educacional brasileiro.


Uma aula predominantemente expositiva, com giz e lousa, em que o professor fica falando por muito tempo e os alunos pouco interagem, é coisa do passado. Prender a atenção do aluno significa utilizar vários recursos como filmes, documentários, animações, músicas, fotos e ilustrações em sala, recursos essenciais para trabalhar com uma geração predominante audiovisual, bombardeada por milhares de informações nos mais diversos dispositivos eletrônicos diariamente.


Os alunos não conseguem ficar atentos por muito tempo ao mesmo assunto. São muitas distrações, e tudo acontece muito rápido, por isso, cada minuto precisa ser aproveitado. O tempo nunca valeu tanto como agora. Alguém coloca um vídeo na rede social, aquilo repercute, daqui a pouco, alguns minutos depois, ninguém fala mais nisso.


Uma aula hoje precisa ser muito planejada, em que o professor expõe uma apresentação inicial, situa o assunto que será abordado no tempo e no espaço, para, logo em seguida, mostrar elementos ou recursos audiovisuais que levem os alunos a debaterem, participarem, e, principalmente, se envolverem no tema principal da aula.


Mesmo a avaliação do aprendizado deve acompanhar estas transformações. Ela não pode ser mais simplesmente quantitativa, como as provas que privilegiam a repetição de conceitos prontos e a decoreba. Ela precisa ser reflexiva, interpretativa, capaz de medir a criatividade e a capacidade de argumentação. Podem até existir outros instrumentos de avaliação, como nota por participação, trabalhos feitos em casa, pesquisas de aprofundamento dos temas discutidos em sala, ou intervenções feitas em classe.


Além disso, a pandemia Covid19 acelerou o Home Office e a adoção de novas tecnologias que dessem conta dos novos ambientes virtuais, o que exigiu ainda mais mudanças na maneira de se comunicar em vários setores, inclusive no educacional. Aulas, palestras, oficinas, cursos on-line se multiplicaram neste período, e este tipo modalidade de ensino mostrou que veio para ficar.


O papel do professor no Novo Ensino Médio

Se traçarmos hoje um perfil do professor da maioria das escolas brasileiras, chegaremos à conclusão de que o professor tem uma formação tradicional, segmentada. Ele é um especialista na sua disciplina. O professor de História tem formação em História. O professor de Matemática tem formação em Matemática.


Com o novo modelo de Ensino Médio, o professor precisará ter um olhar mais interdisciplinar, já que, além da Formação Geral Básica e disciplinas obrigatórias e comuns a todos, o professor poderá ministrar conteúdos, cursos, laboratórios e oficinasrelacionadas aos itinerários formativos que mesclam diversas áreas de conhecimento, e que podem estar relacionadas a disciplinas que fazem interface com sua formação.


Por exemplo: um professor de Geografia pode dar uma aula sobre o transporte coletivo que envolva Matemática (cálculo de quanto tempo os alunos gastam para chegar à escola); Sociologia (impacto social deste transporte na comunidade em que o aluno está inserido), ou até Mobilidade Urbana (medidas para melhorar o acesso ao transporte da comunidade onde vive).


O novo papel do professor deve considerar que: 1- ele não é mais a única fonte de informação; 2- que a imagem da hierarquia professor-aluno vivida pelas gerações anteriores, de um professor distante do aluno e detentor do saber e este último, apenas seu receptor, está desaparecendo: o professor passa a ser ouvinte e a estar mais próximo do estudante, do seu cotidiano, dos seus sonhos e necessidades. 3- O professor não deve ser apenas um transmissor de informações, mas precisa resgatar o interesse e atenção da classe: alguém que ajuda o estudante a construir seu próprio conhecimento, estimulando a troca de ideias, o pensamento crítico e a reflexão sobre sua realidade.


Na sociedade do conhecimento, o papel do professor deve ser separado em três atuações: polivalente, mentor e orientador. No cenário polivalente, a sua atuação é interdisciplinar. A nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do Ensino Médio propõe ao professor que possa desenvolver diversos temas, relacionando-os com conteúdos e atividades curriculares obrigatórias. Para alcançar esses objetivos, o professor precisará ter uma formação mais multidisciplinar.


Como mentor, poderá contribuir para a formação educacional, cognitiva, física, ética, pessoal e emocional do aluno, e no desenvolvimento do seu Projeto de Vida individual.


Como orientador pedagógico, o educador será responsável por atividades mais dinâmicas em sala de aula, onde se torna uma referência, o “maestro da orquestra”, inspirando e conduzindo os alunos na busca de novos conhecimentos e possiblidades.


Precisará buscar temas e realidades, novas metodologias inovadoras de ensino que estimulem a resolução de problemas, além de usar recursos tecnológicos que despertem o interesse do aluno. É também seu papel como educador auxiliar o estudante a organizar e filtrar a grande quantidade de informações que recebe diariamente, e ajudá-lo a distinguir quais são os conhecimentos relevantes e que realmente merecem ser aprofundados.


Realmente, o professor não mais poderá ficar restrito às tradicionais atividades em sala de aula. Ele precisará ser capacitado e ter tempo para investir em cursos de qualificação, estar atualizado com relação às novas tecnologias para dar conta dos desafios dessa nova realidade. Precisará se envolver com outros educadores na construção coletiva dos Itinerários Formativos e outros projetos multidisciplinares do Novo Ensino Médio.


A partir de um problema, deve ser capaz de buscar soluções e respostas mais complexas, que sejam menos mecânicas e instrumentais; de estabelecer relações e contextos, mostrando aos alunos horizontes mais amplos e estimulando o espírito crítico, empreendedor e criativo. Este educador terá que estudar a vida toda, é o que chamamos de “Aprendizado Contínuo”.


Trata-se de uma nova mudança de mentalidade, este profissional deve ser mais valorizado e respeitado por esse novo papel que passa a exercer, o que inclui também a questão da remuneração – com salários justos e dignos e estímulo ao aprendizado contínuo, que refletirá no trabalho que ele desenvolve, inclusive aquele que for feito em casa, ou fora do ambiente escolar, como estudos do meio, por exemplo.


A valorização da carreira do professor é essencial nesse processo, tornar a carreira mais atrativa aos novos talentos que desejem seguir esse caminho profissional. É papel das escolas e da sociedade como um todo, exigir mudanças nesse sentido, estes serão os grandes desafios para os próximos anos de implantação do Novo Ensino Médio.


No terceiro e último artigo da trilogia, abordaremos as mudanças do Novo Enem que estão sendo pensadas para acompanhar a transformação do Novo Ensino Médio.


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